POR JOSAN GOMES/JOSÉ GOMES
AVIAÇÃO
UM VÔO SOLO – Jornal Correio, em 07/01/92, terça-feira.
Naquele dia fui ao aeroclube para mais um vôo de instrução.
Fiz a verificação externa no velho PP-HQV, um Paulistinha de 1944. Entrei na cabine e o eficiente instrutor Bibiu se acomodou no assento de trás.
Taxiei na pista até a cabeceira. Coloquei o avião no sentido perpendicular à pista e fiz o CIGEMA.
Em seguida empurrei o manete e dei toda a rotação ao motor, para ver se estava redondo.
Olhei o tráfego e coloquei a aeronave no sentido longitudinal da pista.
Estava com doze horas de vôo em duplo comando e provavelmente perto de solar.
Fui empurrando o manete para aumentar a rotação do motor e o pequeno avião começou a correr na pista. Continuei acionando o manete e a velocidade foi aumentando. Empurrei-o ligeiramente e senti levantar a bequilha.
A velocidade aumentava, o velocímetro marcava quarenta milhas. Puxei o manche e a terra se soltou do avião, estava voando.
O altímetro marcava 600 pés, empurro o pedal esquerdo e o manche levemente para o mesmo lado, fazendo uma curva suave de 45 graus. Repito a operação, desta vez para a direita e saio do tráfego.
O instrutor manda subir para 2.000 pés, fazer umas perdas, coordenação sobre o eixo e depois manda pousar. A 600 pés entro na perna do vento, quando chego ao lado do lugar e que pretendia tocar o solo, abro o ar quente, reduzo o motor e estabilizo cabrado o avião, faço uma curva à esquerda entrando na perna base, novamente outra curva de 90 graus para a esquerda e fico na reta final. Sinto que estou muito alto e dou uma glissada para perder altura. Passo a cerca da cabeceira da pista, reduzo mais o motor e vou puxando suavemente o manche para fazer um pouso três pontos. Toco no solo, o avião corre na pista e o instrutor manda que eu pare na pista. Bate nas minhas costas e diz – Agora você vai voar sozinho. Decole, faça três pousos e vá para o hangar.
Fiquei frio quando ele abriu a porta e saiu. Senti o vácuo no banco de trás. Ali não estava o meu anjo da guarda.
Porém pensei – Se ele me manda voar sozinho é porque acha que tenho condições.
Aumentei a rotação do motor, comecei a deslizar na pista e fiz uma curva de 180 graus, me dirigindo para a cabeceira da pista. Fiz o CIGEMA, testei o motor, olhei o tráfego e comecei a correr pela pista. O velocímetro diz que posso voar, puxo o manche, o solo me deixa, estou no ar. Saio do tráfego e vou contornando campo. Vem o pensamento preocupante – E agora? Tenho que colocar esse avião no chão incólume.
Depois de dar umas voltas, entro na perna do vento para o pouso. Faço o procedimento correto e entro na reta final. Avalio a altura, estou bem. Vou puxando o manche suavemente e toco no solo. Faço um pouso perfeito.
Por mais duas vezes repito a operação. Na última vez me dirijo para o estacionamento em frente ao hangar. O instrutor e os pilotos mais antigos me dão os parabéns e me pegam para o banho de óleo, que consiste em sujar o “manicaca” com óleo queimado.
Depois do banho de óleo fomos para o hangar, para os comes e bebes.
Pronto, fizera o meu vôo solo. Estava habilitado a voar sozinho. Ficar mais perto de Deus.
Porém para tirar o brevê, precisava ainda fazer os vôos de navegação.
Mas isto é outra história.
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